A indústria química brasileira ocupa uma posição de destaque no cenário global. Ela é a sexta maior do mundo em termos de faturamento, conforme dados recentes.
A indústria química do Brasil é diversificada e engloba diversos segmentos, incluindo produtos químicos de base, químicos industriais, produtos farmacêuticos, petroquímicos, e especialidades químicas.
Este setor é crucial para a economia do país, contribuindo significativamente para o PIB e gerando empregos. Além disso, o Brasil é um importante exportador de produtos químicos, atendendo a mercados em várias partes do mundo.
Essa posição de destaque reflete a capacidade do Brasil de produzir uma ampla gama de produtos químicos e sua importância como um player global nesse setor.
Apenas para uma simples visualização deste setor, podemos verificar que em 2023 houve um déficit entre importação e exportação de 63,5 bilhões de dólares. Este número pode ser um pano de fundo para olhar como uma oportunidade para o setor. Se há importação, há consumo, e se há consumo , há a possibilidade de produzir, caso isso seja viável economicamente. Isso nem sempre se realiza.
O setor óleo químico ( produtos naturais ) , pode ser desenvolvido de forma muito rápida e robusta. O Brasil é um dos países com maior produção agrícola de oleaginosas do mundo. Isso pode ser aproveitado, agregando valor na cadeia produtiva. Não podemos aceitar importação de derivados de soja, milho , trigo e outros , quando exportamos as sementes.
O setor álcool-químico no Brasil apresenta uma potencialidade significativa, alavancada por diversos fatores estratégicos e competitivos:
1. Abundância de Matéria-Prima: O Brasil é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo, a principal matéria-prima para a produção de etanol. Isso garante um fornecimento estável e economicamente viável de matéria-prima para o setor álcool-químico.
2. Experiência e Tecnologia: O país possui uma longa história e expertise na produção de etanol, tanto para uso como biocombustível quanto para a indústria química. A tecnologia e os processos desenvolvidos ao longo dos anos colocam o Brasil em uma posição de destaque. Deverão ser desenvolvidos outros setores da indústria alcoolquímica , tais como solventes verdes, ácidos orgânicos para consumo em alimentos, aproveitamento do açúcar ( matéria prima para fabricação de etanol) como matéria prima para muito produtos ( goma xantana, sucralose, proteína para alimentação animal, entre outros), agregando imenso valor na cadeia produtiva e com escala significativa.
3. Sustentabilidade: O etanol de cana-de-açúcar é considerado uma fonte de energia renovável e menos poluente comparado aos combustíveis fósseis. Com a crescente demanda global por produtos sustentáveis e a pressão por redução de emissões de gases de efeito estufa, o setor álcool-químico no Brasil tem um apelo dentro das tendências internacionais de sustentabilidade econômica, meio ambiente e governança corporativa ( conceito ESG)..
4. Diversificação de Produtos: Além do etanol combustível, o álcool-químico pode ser usado para produzir uma vasta gama de produtos químicos, além dos já citados, incluindo plásticos, produtos de higiene e limpeza, e produtos farmacêuticos. Isso permite uma diversificação das aplicações e mercados.
5. Inovação e Pesquisa: Instituições de pesquisa e empresas brasileiras têm investido em inovação para melhorar a eficiência da produção e desenvolver novos produtos a partir do etanol. Tecnologias como a produção de biopolímeros e outros químicos avançados a partir de etanol estão sendo exploradas.
6. Políticas Públicas e Incentivos: O governo brasileiro tem implementado políticas e incentivos para promover a produção e o uso de biocombustíveis, incluindo o RenovaBio, que estabelece metas de descarbonização e oferece incentivos para a produção de etanol.
7. Mercado Internacional: O Brasil exporta etanol para diversos países e há um potencial de crescimento nas exportações de produtos químicos derivados do etanol, aproveitando a tendência global de busca por alternativas mais verdes e sustentáveis.
8.Integração com a Indústria Sucroalcooleira: A sinergia entre a produção de açúcar e etanol permite uma flexibilidade maior para os produtores, que podem ajustar a produção conforme a demanda do mercado, otimizando a rentabilidade.
Em resumo, o setor álcool-químico no Brasil tem um grande potencial devido à disponibilidade de matéria-prima, expertise tecnológica, apelo sustentável, diversificação de produtos, políticas favoráveis em alguns aspectos e um mercado internacional em crescimento. Esses fatores combinam-se para posicionar o Brasil como um líder global no setor.
O mercado de produtos químicos commodities no Brasil é um setor robusto e diversificado, essencial para a economia do país. Este mercado inclui uma variedade de produtos químicos de grande volume e baixo valor agregado, que são utilizados em diversos setores industriais, como a agricultura, a construção civil, a indústria automotiva, a fabricação de plásticos e a produção de produtos de consumo.
Aqui estão alguns aspectos chave deste mercado:
1. Principais Produtos:
Petroquímicos Básicos: Incluem eteno, propeno, butadieno, benzeno, tolueno e xileno. Esses produtos são utilizados como matéria-prima para a fabricação de plásticos, borrachas sintéticas e outros produtos químicos.
Fertilizantes: Nitrogenados, fosfatados e potássicos são os principais tipos de fertilizantes, fundamentais para a agricultura.
Polímeros: Polietileno, polipropileno, PVC e poliestireno são amplamente usados na fabricação de embalagens, componentes automotivos e produtos de consumo.
Produtos Cloro-Álcalis: Incluem cloro, soda cáustica e seus derivados, utilizados em tratamentos de água, papel e celulose, e na indústria de alumínio.
2. Estrutura do Mercado:
Produção Local: O Brasil possui um setor petroquímico bem desenvolvido, com grandes empresas como Braskem liderando a produção de petroquímicos e polímeros.
Importações: O país também importa uma quantidade significativa de produtos químicos, especialmente fertilizantes e alguns petroquímicos específicos, para complementar a produção local.
3.Principais Empresas:
Braskem: Maior produtora de resinas termoplásticas das Américas e uma das principais do mundo.
Unigel: Importante produtora de acrílicos e estirênicos.
Oxiteno: Focada na produção de tensoativos e químicos especializados, mas também atua em commodities.
4. Desafios e Oportunidades:
Custos de Produção: A competitividade é afetada por fatores como custos de matérias-primas (nafta, gás natural), energia e logística.
Sustentabilidade: A crescente demanda por produtos químicos mais sustentáveis e de fontes renováveis está incentivando investimentos em inovação e tecnologia.
Regulação: Normas ambientais e de segurança afetam a produção e comercialização de produtos químicos, exigindo conformidade rigorosa por parte das empresas.
5. Tendências de Mercado:
Digitalização: Adoção de tecnologias digitais para otimizar processos de produção e logística.
Inovação: Desenvolvimento de novos materiais e produtos químicos, como biopolímeros e aditivos mais eficientes.
Integração Vertical- Empresas buscam maior integração vertical para garantir suprimento de matérias-primas e reduzir custos.
6.Impacto Econômico
Contribuição ao PIB: A indústria química é um dos pilares da economia brasileira, contribuindo significativamente para o PIB industrial. A indústria química brasileira representa aproximadamente 2,5% do PIB do Brasil (não nos referimos ao setor de energia , que envolve petróleo e a maioria dos seus derivados , que responde entre 10 e 15% do PIB do Brasil com oscilação de ano a ano nesta faixa) . O volume de produção é bastante importante , bem como seus desdobramentos na cadeia produtiva de diversos setores, ou melhor, de todos os setores da indústria brasileira. Esse percentual é menor do que aquele que representa a indústria química mundial no PIB global que é de aproximadamente 4%. Temos muito a crescer, aproveitando nosso potencial de consumo, nossas matérias primas e nossa posição geográfica, estabilidade política e capacitação de recursos humanos e o aumento substancial dos recursos energéticos.
Empregos: Gera muitos empregos diretos e indiretos, tanto na produção quanto na cadeia de suprimentos.
Em resumo, o mercado de produtos químicos commodities no Brasil é um setor dinâmico, com grandes empresas líderes e uma ampla gama de produtos essenciais para diversas indústrias. Ele enfrenta desafios relacionados a custos e sustentabilidade, mas também oferece oportunidades significativas para inovação e crescimento.
O mercado de química fina no Brasil enfrenta diversos desafios, incluindo a dependência de insumos importados e as oscilações econômicas globais. Não há um valor exato amplamente disponível para o tamanho total do mercado atualmente. No entanto, o setor é considerado estratégico devido ao seu impacto econômico e potencial de crescimento, que depende de políticas públicas consistentes e investimentos em inovação e produção local.
Nos últimos anos, temos visto uma série de investimentos significativos que visam expandir a capacidade de produção, aumentar a eficiência e promover a sustentabilidade. Aqui estão alguns dos grandes investimentos recentes:
1. Braskem:
- Planta de Polipropileno nos EUA: Embora não seja no Brasil, a Braskem investiu cerca de US$ 675 milhões em uma nova planta de polipropileno em La Porte, Texas. Este investimento é relevante para o Brasil, já que fortalece a posição global da empresa e sua capacidade de exportar para mercados internacionais, inclusive o brasileiro.
Projetos de Economia Circular: A Braskem tem investido significativamente em iniciativas de economia circular e sustentabilidade. Um exemplo é o investimento em tecnologia para reciclagem de plásticos e desenvolvimento de resinas de base renovável.
2. Unigel:
Expansão da Produção de Acrílicos e Estirênicos: A Unigel anunciou investimentos para aumentar a capacidade de produção de acrílicos e estirênicos, visando atender à crescente demanda dos mercados interno e externo.
Planta de Fertilizantes: A empresa retomou a operação de uma planta de fertilizantes nitrogenados em Sergipe, com investimentos na modernização e ampliação da capacidade produtiva.
Há barreiras significativas a serem vencidas nestes investimentos, tais como a capacitação técnica e financeira dos players atuantes, regulação ambiental , econômica e neste âmbito, a tributária.
3.Oxiteno:
Expansão da Capacidade de Produção: A Oxiteno tem investido em aumentar a capacidade de produção de tensoativos e outros produtos químicos especializados em suas plantas no Brasil. Em 2020, a empresa concluiu a expansão de sua planta em Pasadena, Texas, também relevante para o Brasil devido à maior integração de suas operações globais.
4. BASF:
Centro de Pesquisa e Inovação: A BASF inaugurou um novo centro de pesquisa e desenvolvimento em São Bernardo do Campo, São Paulo, focado em desenvolver soluções inovadoras para a agricultura, químicos de performance e materiais.
Parceria com Braskem: A BASF e a Braskem firmaram uma parceria para produzir ácido acrílico a partir de fontes renováveis, com investimentos conjuntos em pesquisa e desenvolvimento.
5. Dow:
Investimentos em Sustentabilidade: A Dow investiu em tecnologias para reduzir a pegada de carbono de suas operações e aumentar a eficiência energética de suas plantas no Brasil. A empresa também está explorando oportunidades na área de reciclagem de plásticos. Seria muito significativo se aumentasse a capacidade produtiva, além de modernizar as plantas, transformando o Brasil num polo exportador.
6. DSM:
Expansão de Produção de Nutrientes e Vitaminas: A DSM ampliou suas operações no Brasil com investimentos em novas linhas de produção para atender a demanda crescente por suplementos nutricionais e vitaminas.
Esses, entre outros investimentos, refletem uma tendência de modernização e expansão da capacidade produtiva, com um foco crescente em sustentabilidade e inovação tecnológica. As empresas estão não apenas ampliando suas operações tradicionais, mas também investindo em novas tecnologias e produtos que atendem às demandas de um mercado em transformação.
Para aumentar a capacidade competitiva do setor de produtos químicos no Brasil, são necessárias várias ações e melhorias em diferentes áreas:
1. Inovação e Tecnologia: Investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para criar novos produtos e melhorar os processos existentes. Parcerias com universidades e centros de pesquisa podem ser fundamentais.
2. Infraestrutura: Melhorar a infraestrutura logística, como portos, rodovias e ferrovias, para reduzir os custos de transporte e aumentar a eficiência na distribuição dos produtos.
3. Custo de Energia: Reduzir o custo da energia, que é um dos principais insumos da indústria química. Isso pode ser feito através de políticas de incentivo a energias renováveis e melhorias na eficiência energética.
4.Regulação e Burocracia: Simplificar a regulação e a burocracia para facilitar a abertura e operação de empresas no setor. Isso inclui reduzir o tempo e os custos associados a processos regulatórios.
5. Capacitação de Mão de Obra: Investir na formação e qualificação de profissionais para atender às demandas tecnológicas e operacionais da indústria química.
6.Políticas Públicas: Desenvolver políticas públicas que incentivem o crescimento do setor, como incentivos fiscais, financiamento a baixo custo e programas de apoio à exportação.
7.Sustentabilidade: Adotar práticas sustentáveis que não só atendam às demandas ambientais, mas também criem uma imagem positiva da indústria perante os consumidores e parceiros internacionais.
8.Integração na Cadeia Global: Estimular a participação das empresas brasileiras na cadeia de valor global, o que pode ser feito através de parcerias internacionais, joint ventures e participação em feiras e eventos globais.
9.Competitividade dos Insumos: Garantir a competitividade dos insumos básicos, como matérias-primas, muitas das quais são derivadas do petróleo e gás. Políticas de incentivo à produção nacional de gás com todas as suas etapas serão benéficas.
Essas ações podem ajudar o setor de produtos químicos brasileiro a se tornar mais competitivo no cenário global, atraindo investimentos, gerando empregos e aumentando a participação nas exportações.
Uma das ações ou atitudes, podemos até considerar um modelo mental adequado para a competição internacional, é o planejamento em diversos cenários e a avaliação e assunção de riscos. Os riscos existem. Afinal, quem pôde prever a queda do Lehman Brothers gerando a crise das subprime, ou a Pandemia do Covid 19?
Esses cenários são imprevisíveis, porém outros podem ser mitigados, caso possam suas variáveis mais robustas sejam visualizadas com certa anterioridade. Financiamento com compromisso de ativos prévios ou garantias verdadeiras, lastreadas em ativos das empresas, devem ocorrer e devem obedecer a taxas internacionais.
As armas utilizadas pelos competidores internacionais deverão ser utilizadas. Zonas de exportação, citadas acima, subsídios para indústrias emergentes, financiamentos vantajosos em áreas que terão componentes de competitividade previamente observados e equacionados, bem como contratação de mão de obra qualificada aqui e no exterior, são itens fundamentais para execução de planos de expansão.
Apenas esperar subsídios do governo ou risco zero para os players, não resultarão em um desenvolvimento sustentável em todas as suas formas.